E se as ondas fossem escadas para o céu?
Enquanto a maré cheia vaza
e o seu estrelado permanece imóvel,
eu contemplo o som do ir e voltar.
Espreito na ponta da falésia,
sem que o coração bata.
Vejo a espuma enegrecida pela noite,
a raiva que volta da dor que antes fora.
A paz que outrora o mar trouxera
é agora máscara de som de cada soluço meu.
Cada lágrima que cai do meu rosto
perde-se na escura imensidão do horizonte.
Nesse momento me questiono:
E se as ondas fossem escadas para o céu?
Cortaria uma noz ao meio
e embarcava numa aventura.
Lançava-me ao mar em busca de um tesouro,
com uma bússola para me ajudar a descobrir
que o importante é a viagem
e não chegar onde quero ir.
E se as ondas fossem escadas para o céu?
Gostaria de ser peixe,
como tantos perto de mim.
Mas não é por ter pernas e braços que deixo de ir ao mar.
Subo a bordo e sozinho estou prestes a zarpar.
Quando largo a costa oiço vozes a gritar.
Olho um última vez para o lugar onde espero não voltar,
Vejo rostos com sorrisos e lágrimas a cair,
vejo carpideiras prontas e a maré a subir.
Respiro fundo a maresia que só me toca a mim,
Fecho os olhos para lembrar o que está antes do fim.
Largo um grito onde ecoa toda a raiva e a dor,
para que possa ser ouvido onda o mar se vai pôr.
As ondas são escadas para o céu.
Por isso digo adeus ao que vivi até aqui.
Agora vou galopando num caminho sem fim,
Sabendo que quando afundar me despeço de mim.